O concerto de abril do ciclo AcáMúsica levou a palco o duo Pourquois Pas?, constituído por Augusto Pacheco, na guitarra, e Raquel Lima, nas flautas transversais.
Com uma atividade muito relevante no panorama camerístico nacional, o duo, a marcar 25 anos de atividade, apresentou um repertório que abordou diferentes formas de fazer música, quer pelos tipos de discurso estético, quer pelos recursos sonoros explorados em cada instrumento, em particular, e na fusão de ambos. Numa expressividade muito objetiva do que pretendia ser ‘dito’ em cada obra, o público foi levado a inspirações de diferentes estados da matéria - a identidade da terra, pela sua cultura nativa; a inspiração etérea, pelo ambiente que a luz cria; a água e os diferentes ambientes que promove – numa dinâmica que traz as raízes nacionais, a universalidade do discurso e a globalidade do eu planetário para o contexto musical. Tornou-se clara esta transversalidade de um discurso que, ao celebrar a identidade regional projeta a unidade universal, com a execução de “Histoire du Tango” de Astor Piazzolla, do qual se ouviram as duas primeiras peças (Bordel 1900 e Café 1930), para depois se seguir uma meditação em torno da luz e a sua composição, com “Lux (trilogia da luz branca)”, do compositor português Ricardo Abreu, os sentimentos que a sua tríplice composição RGB (Red-Green-Blue) exortam em cada existência. De seguida as sonoridades mais modernas de Tōru Takemitsu trouxeram a celebração da água do mar, da sua identidade e importância, na obra “Toward the SEA”, que faz uso da flauta alto, inspirada no romance Moby-Dick, de Herman Melville, enquanto “La mitologia de las águas” de Leo Brouwer, da qual se tocou o segundo andamento, trouxe uma linguagem mais contemporânea, usando a água, neste caso a dois rios e lagos, como um elemento universal que ganha identidade tão própria como a de um local particular, e a música como o veículo comunicativo mais apropriado para a explorar.
Contudo, foi celebrando a terra, a identidade cultural portuguesa que se terminou o concerto, com o quarto livro das “Melodias Rústicas Portuguesas” de Fernando Lopes-Graça, onde se revisitou diferentes cantos tradicionais de Trás-os-Montes ao Algarve, sem esquecer o Alentejo e o Beirão, com uso do flautim como elemento de aproximação às sonoridades da gaita mirandesa, da dança e da festa, em alternância com as melodias de embalar e os hinos de celebração.
Para registo ficou a brilhante atuação do duo, patente no envolvimento claro de toda a plateia e a espera que se pinte novo quadro de sons num maduro maio que se segue despois desta celebração de Abril.
José Luís Postiga – Inet-MD, Universidade de Aveiro – DeCA