Cultura e Lazer

Duo OpenString no AcáMúsica

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O ciclo de concertos AcáMúsica continuou a concretização da sua programação com o concerto do duo OpenString, composto por Raquel Andrade, no violoncelo, e Tamara Shagalimova, ao piano.

Foi sob a temática dos “Sons Ibéricos” que o repertório foi escolhido e apresentado, tendo-se ouvido música de Gaspár Cassadó, Fernando Lopes Graça e Óscar da Silva, para terminar com Joly Braga Santos. Ao longo dos cerca de 60 minutos de concerto, os comentários de José Luís Postiga procuraram orientar a audição da plateia para a identidade dos temas populares presentes nas obras e representativos dos dois países vizinhos, mas também as estruturas musicais e abordagens estéticas que unificam a linguagem de todos num discurso sonoro fluido e comum.
De Cassadó escutou-se a sua Sonata para Cello in stile antico spagnuolo, que lembrou a fulcral influência da vida em Espanha de Luigi Bocherini no desenvolvimento da música para violoncelo, mas também o primeiro andamento da Suite para cello solo, tendo Raquel Andrade assumido a interpretação de uma abordagem mais impressionista, com toques de Ravel ou Falla na composição do violoncelista catalão. Também se sentiu presente a figura de Guilhermina Suggia, incontornável para o universo violoncelístico, colega de Cassadó, e para quem Lopes Graça escreveu a ouvida Página Esquecida, um segundo andamento de um concerto para violoncelo que nunca chegou a existir.
Depois foi Tamara Shagalimova a trazer a dor de Óscar da Silva, com a sua 3ª Dolorosa, pela perda da sua mãe, mas também pelo lamento à dor da sua rainha, D. Amélia, no momento do exílio, na altura da implantação da república portuguesa, e cuja sonoridade ao piano solo fez relembrar a base temática e formal da Sarabanda em ré menor HWV 437 de G. F. Haendel. Para terminar, celebrou-se a música erudita escrita para que todos a possam usufruir, como definia o musicólogo João de Freitas Branco, pelas páginas de Joly Braga Santos, com recurso à sua Ária I, e ao Tema e Variações, tendo o duo trazido a sonoridade do tema popular e diferentes vertentes da sua transformação musical, à luz da estética neoclássica característica do compositor.
As cordas soltas do duo mantiveram-se sempre empáticas, como refletiu o encore com a Melodia de Joly Braga Santos, traduzindo uma vibração de serenidade e harmonia entre público e intérpretes em reflexo da fusão ibérica que se sentem pelos sons que se vai partilhando nos dias que correm.

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