Cultura e Lazer

De olhos nos olhos com o que nos dói

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A pandemia chegou e com ela trouxe o medo como cartão de visita, a incerteza do futuro, uma hipocondria persistente, uma crise na saúde e na economia, e um distanciamento que transpôs o físico – afastou-nos do familiar, dos nossos hábitos enraizados, das pessoas que nos são queridas e da liberdade que sempre demos como garantida.
Presenteou-nos com um sofrimento global inimaginável através do contacto diário com a morte e a doença, ou porque os vivemos na pele, ou porque os nossos os experienciaram ou, quando mais não seja, através de relatos e notícias que invadiram os ecrãs das nossas casas. Assim, não foi só o vírus que entrou pelas nossas vidas dentro, mas também a pandemia do medo, da tristeza, da raiva e uma avalanche de doenças do foro mental como a ansiedade e a depressão.

Cinco estratégias de autocuidado e gestão emocional
1) Recorda-te que, nesta situação pandémica, é natural sentires medo, frustração, stress, tristeza, raiva e impotência. Se experimentas algum ou alguns destes sentimentos, lembra-te que não estás sozinho. A vantagem deste segundo confinamento é que podes aprender a partir do primeiro: que estratégias usaste que te ajudaram? O que é que não correu tão bem e podes fazer de forma diferente?

2) Escreve um diário. Quando encaramos o que vai dentro de nós, tudo se torna mais claro na nossa mente. Deixamos de sentir emoções e pensamentos soltos e passamos a atribuir-lhes um nome, um significado, uma origem. Aquilo que era um monstro assustador cujos gritos eram dentes feitos de palavras, afinal não é assim tão grande e vai tornando-se cada vez mais pequeno à medida que exploramos o cocktail de emoções que nos esmaga. Outra sugestão é começares um diário de gratidão: anota diariamente 10 coisas pelas quais estás grato. O sentimento de gratidão dá outro sabor à vida, estando intimamente relacionado com a melhoria dos níveis de bem-estar.

3) Investe nos teus relacionamentos. O isolamento físico não é sinónimo de isolamento emocional: escreve uma carta a um amigo; lê uma história à distância; partilha o que sentes com os teus familiares e recorda-os de quanto os amas e te preocupas com eles;

4) Reforça comportamentos pró-sociais e procura um propósito para o que estás a passar. Reflete sobre formas de ajudares e de seres útil: permanece em contacto com pessoas que possam estar em situações de maior vulnerabilidade; participa num projeto de voluntariado; ensina uma arte/aptidão a alguém;

5) PEDE AJUDA se te sentires sobrecarregado, esgotado e se as emoções e pensamentos de ansiedade e inquietação forem contínuos e condicionarem o teu dia a dia. Liga para a Linha de Aconselhamento Psicológico do SNS24 ou procura ajuda de um psicólogo.
Agora, mais do que nunca, é preciso olhar para dentro de nós mesmos, olhos nos olhos com as nossas emoções e pensamentos. Sentarmo-nos connosco e conversar com aquilo que nos dói, com aquela ferida aberta que não permitimos que cicatrizasse porque, até agora, não lhe demos a devida atenção. É tempo de deixar as emoções florescerem e serem tal como são, pois não é negando e suprimindo o que sentimos que a dor desaparece, apenas fica ali a baloiçar ao vento e a tornar-se cada vez maior, mais pesada e mais confusa, até se tornar um emaranhado que nos deixa os órgãos trocados.
O sofrimento que carregamos esmaga-nos aos bocadinhos, cria raízes e faz-nos cair num buraco, numa coisa sem fim. Porém, o sofrimento é também uma página em branco, uma oportunidade de recomeço e de aprendizagem. E se, em vez de o tentarmos silenciar, experimentarmos abraçá-lo? E se, em vez de o reprimir, o escutarmos?

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