Manuel da Costa Pinho - (1934-2023)

O meu irmão nasceu no mesmo mês e dia do que eu, onze anos antes.
Teve uma vida afetada por muitas doenças. Lembra-me que não conseguia ir à primeira chamada dos exames no Liceu nem na Faculdade de Medicina, pois estava sempre doente.
Às vezes, na Faculdade, era agendada uma data especial para ele poder fazer o exame.
Foi sempre um aluno distinto com elevadas notas tendo após finalizado o curso, sido Assistente de reputados professores.
Desde muito pequeno mostrou grande interesse pela cirurgia e muitas vezes, já com 19 anos, assisti, em nossa casa, a “práticas cirúrgicas” em coelhos.
Teve várias atividades, algumas por necessidade e outras por paixão. Vendeu, enquanto estudante aos 18 anos, lápis, borrachas e papel para ajudar nas despesas da casa. Integrou o Orfeão Universitário do Porto tornando-se um grande intérprete do fado de Coimbra. A sua voz assemelhava-se ao grande fadista Luís Góis. Tendo sido operado às cordas vocais deixou de cantar.
Outra atividade desenvolvida por ele foi dedicar-se à fotografia tendo montado estúdio de revelação em casa.
Concluído o curso especializou-se em Gastroenterologia e em Cirurgia, trabalhou no Hospital de S. João da Madeira e no de Oliveira de Azeméis. Exerceu durante muitos anos a prática clínica no seu consultório em S. João da Madeira. Destacou-se no Hospital Santo António onde trabalhou e lecionou Gastro na Faculdade de Medicina “Instituto Abel Salazar”.
Deixou uma coletânea de versos que eu, quando miúda, adorava lê-los. Bastante tristes, pois coincidia, na produção dos seus versos, nas sucessivas lutas contra as doenças que o atormentavam.
Entretanto começou a pintar a óleo tendo participado várias exposições coletivas em S. João da Madeira, sua terra natal, e no Porto.
Não posso deixar de expressar estes sentimentos que nutro pelo meu irmão pois sinto que um sanjoanense com uma vida notável e que, apesar da complexidade que o envolveu foi capaz de se mostrar sempre com disponibilidade para ajudar familiares e amigos denotando sempre uma prática leal e aberta.

Maria Sidónio Costa Pinho