Eduardo José da Costa Duarte deixou-nos, ao fim dos seus 73 anos sobre a Terra.
Eduardo José da Costa Duarte deixou-nos, ao fim dos seus 73 anos sobre a Terra. Para quem parte com tantos projetos por concretizar, 73 anos é muito pouco. Os que lidavam de perto com ele sabiam muito bem disso e aqueles que não tiveram tempo de o conhecer tão bem, sem o saber, sentiam-no. A título de exemplo, permito-me reproduzir aqui um excerto do elogio fúnebre de Miguel Oliveira, campeão nacional de mergulho em apneia indoor pela SJM-SUB, a “nossa” associação que o Eduardo ajudou a fundar e de que era, nesta vigência, vice-presidente da direção: “O Sr. Eduardo era uma daquelas pessoas que eu achava que nunca iria partir, pois, devido à sua experiência de vida, tão intensa e preenchida, dava-me uma sensação quase de imortalidade…”.
O primeiro encontro que tive com o Eduardo foi meramente casual. Aconteceu na apresentação dos Unidos à ADS, uma equipa de jovens praticantes de hóquei em patins que se exibiu no recém-construído Pavilhão dos Desportos, perante uma assistência em que se destacava o Comendador Rainho – seu tio-avô – na última visita que este fez a S. João da Madeira, em 1960. O Eduardo era um dos jogadores da formação treinada por Augusto Monteiro, eternizada pela objetiva do fotógrafo Carlos Pádua. Eu e o Jorge Palmares, ambos pouco familiarizados com os patins, ficamos atrás da rede, na foto que se publica ao lado.
Muitos outros encontros se seguiram, nas “cowboyadas” pelos matos de Fundo de Vila, nas banhadas no rio, em casa da avó Conceição e, depois, no Colégio Castilho. Encontros e desencontros, como sucedeu com o internato e o serviço militar. Cada um foi para o seu lado.

A partir de 1975, a nossa Amizade fortaleceu-se e ganhou raízes profundas. O Eduardo liderava um grupo de pesca submarina que atuava, preferencialmente, na Ria de Aveiro, entre o Carregal e a ponte da Varela. Naquela altura, com os nossos equipamentos rudimentares, corríamos todos atrás de uma lendária tainha, que ele próprio batizara com o sugestivo nome de “Moby Dick”. Desse grupo faziam parte ainda o Carlos Correia, o Filipe Duarte o António Correia e eu, como estreante.
A desejada presa, muito provavelmente, terá morrido de velhice, até porque as nossas vidas começaram a levar um novo rumo. Conclusão de estudos, início da atividade profissional e, sobretudo, da nossa vida como “chefes” de família. Depois de um negócio de impressão de fotocópias, com o Pedro Marreiros, o Eduardo lançou-se no fabrico de velas de cera, tendo como colaboradores o António Viana, o Fausto Brandão e eu, que conseguia, no desempenho dessa atividade, um complemento ao meu ordenado de professor provisório. Trabalhávamos muito, mas sobrava tempo para nos divertirmos ainda mais.
Foram anos vividos intensamente. O Eduardo voltou a praticar hóquei em patins, em representação da Ferpinta, atividade que acumulava com a de lançador de peso e disco, primeiro ao serviço da A. D. Sanjoanense, depois defendendo as cores do Clube de Campismo de S. João da Madeira. Uma vez por ano, participávamos no Rally Paper a favor da Associação de Dadores de Sangue de S. João da Madeira, com uma equipa reforçada com o Jaime Silva e o Mário Martins. Estivemos sempre no pódio e vencemos a última edição.

em baixo, Daniel Neto
Uma lesão no joelho esquerdo acabou por ditar o fim da carreira como atleta, quer de atletismo, quer de hóquei em patins. No entanto, o Eduardo manteve-se por muito mais tempo ligado a esta modalidade, iniciando, a partir de então, uma carreira brilhante de treinador. Começou no Clube Desportivo de Cucujães, onde se sagrou campeão da 3ª divisão. Não tardou, por isso, a ser chamado ao comando da “sua” A. D. Sanjoanense, tendo-se mantido aqui várias épocas. Numa delas, creio que a de 1988/89, tive o privilégio de integrar a equipa técnica que liderava. Uma experiência inolvidável. Passou também pela Académica de Coimbra, U. D. Oliveirense e A. A. de Espinho. A sua ligação à modalidade ficou ainda marcada pela participação, como principal responsável, na organização do campeonato europeu de hóquei em patins feminino, realizado no Pavilhão das Travessas, em 1997, e pela conquista, em 2001, do título de campeão nacional da segunda divisão de hóquei em patins, à frente da equipa sénior masculina da A. D. Sanjoanense.

Em 2009, fundamos a Associação de Atividades Subaquáticas SJM-SUB. Nos últimos anos, o Eduardo desempenhou os cargos de presidente e vice-presidente do clube, que teve o seu ponto mais alto na época que terminou em junho passado, com a conquista do título de campeão nacional de mergulho em apneia indoor, em termos individuais, e de vice-campeão nacional, em termos coletivos. Durante a segunda década deste século, o clube deve-lhe, em grande parte, o sucesso que teve a tasquinha que explorou nas várias edições do evento Cidade no Jardim, organizado pelo município sanjoanense. Ficaram célebres as “paellas à Zezé”, que magistralmente confecionava.
Os últimos anos da “curta” vida do Eduardo foram vividos ainda com mais intensidade. Fez da Canon que o irmão lhe deu o seu instrumento de trabalho e a fotografia depressa se tornou uma das suas grandes paixões. Quantos raides fotográficos partilhados comigo, pela Ria de Aveiro, Serra da Freita e Parque do Rio Ul! Os trabalhos aqui realizados chamaram a atenção da engenheira Vera Neves e, em boa hora, a Câmara Municipal o convidou a expô-los na Casa da Natureza e, com eles, editar o livro “A biodiversidade do Parque do Rio Ul”, apresentado na primavera de 2021. A derradeira exposição aconteceu no final de 2022, já com a doença a miná-lo.
Outra das suas grandes paixões era a pesca. Invariavelmente praticada na zona de S. Jacinto e da Barra, na companhia do Augusto Azevedo, do João Guimarães ou do Daniel Neto. Foi com ele e com estes dois que o “Zusco” se fez à água pela última vez, em setembro do ano passado.
A homenagem vai longa e é preciso parar. Não o poderia fazer sem referir a maior de todas as suas paixões: a Família. E como ele a amava! Quem, de nós, não o ouviu falar dos netos Martim e Rodrigo Ribeiro, orgulho do clã e menina dos seus olhos? Avô babado! E com razão, porque são dois atletas de eleição, de quem o País espera muito. Por culpa deles, o Eduardo transformou-se no primeiro dragão de leão ao peito.
Por tudo isto e por muito mais, o Eduardo Duarte deixa um vazio difícil de preencher. Guardarei para sempre a recordação de uma pessoa excecional, forte, corajosa e cheia de energia positiva.
Até sempre, querido Amigo!