O orador convidado pela Câmara Municipal foi Eduardo Anselmo Castro, professor e investigador da Universidade de Aveiro, que se debruçou sobre os desafios da demografia.
A importância da imigração para a demografia e economia de Portugal constituiu uma das tónicas principais da conferência Pensar Futuro que decorreu no último sábado nos Paços da Cultura de S. João da Madeira. O orador convidado pela Câmara Municipal foi Eduardo Anselmo Castro, professor e investigador da Universidade de Aveiro, que se debruçou sobre os desafios da demografia.
Face a crise de natalidade que o Portugal enfrenta - apresentando dos índices mais baixos do mundo -, o docente universitário apontou como decisivo para o desenvolvimento de Portugal o acolhimento e integração de cidadãos de outros países, paralelamente à aplicação de medidas que reduzam a saída de jovens e que promovam a natalidade. “Os sítios com mais migrantes são os mais dinâmicos do mundo”, salientou Anselmo Castro, lembrando que a força do trabalho é atualmente “um recurso escasso”. Acresce o facto de um quadro de poucos nascimentos se mudar, no melhor cenário, “muito lentamente”.
Como alertou o orador, se o saldo migratório fosse nulo, a redução da população ativa nos próximos 20 anos seria de mais de 20 por cento. E, no interior, essa diminuição será ainda maior. Para enfrentar essa possibilidade se concretize, Portugal terá “de ter, até 2040, uma migração líquida positiva de 800 mil pessoas”. Por isso, considera que a captação de pessoas de outros países “deve ser uma missão estratégica nacional”, o que passa por criar mais oferta de emprego, de habitação e de serviços.
E essa vertente de captação de imigrantes deve ser conjugada com investimento para melhorar a produtividade e aumentar a transferência de tecnologia e dos centros de investigação e das universidades para as empresas. Mas não é tudo. “O país tem que investir a sério no ensino se quer chegar a algum lado”, sustenta Anselmo Castro.
“É possível manter a estabilidade da Segurança Social”
Mesmo com o envelhecimento da população, o orador considera que, captando população e aumentando a produtividade, será “perfeitamente possível manter a estabilidade da Segurança Social”, ainda que com alguns ajustamentos ao nível dos descontos e/ou da idade da reforma.
Quanto à saúde e educação, são setores nevrálgicos que “continuarão a depender de pessoas, que serão cada vez mais caras”. Sendo assim, não será possível, nessas áreas, diminuir a despesa pública, pelo que, afirma Anselmo Castro, será necessária a “estabilidade ou mesmo aumento da carga fiscal”.
Eduardo Anselmo de Castro é autor de mais de 200 publicações científicas, sobre temas como a demografia, habitação, modelação econométrica ou estatística espacial. Tem participado e coordenado projetos de investigação nacionais e internacionais, focados, designadamente, na análise de impacto social e económico, desenvolvimento regional e políticas de inovação.
Mais duas sessões este ano
Este foi o segundo momento da edição de 2023 do ciclo “Pensar Futuro”, que é dedicado, este ano, ao tema “Os Novos Desafios da Sociedade”. O primeiro orador foi o bispo D. Américo Aguiar, seguindo-se, no último sábado, Eduardo Anselmo Castro. A 23 de setembro, Carlos Jalali, professor na Universidade de Aveiro, onde dirige o mestrado em Ciência Política, abordará “Os Desafios da Democracia”. Finalmente, a 28 de outubro, o cientista Nuno Castro falará sobre “Os Desafios da Inteligência Artificial”.
São quatro conferências promovidas pela Câmara Municipal para proporcionar ao público uma perspetiva abrangente sobre novos desafios com que o mundo se depara, pelo olhar de diferentes intervenientes, dando continuidade a uma iniciativa que arrancou em 2018 e que já trouxe a S. João da Madeira um vasto conjunto de especialistas em diversas áreas.