Por ser um produto natural, a levedura do arroz vermelho (LAV) não é uma alternativa preferencial às estatinas
A LAV obtem-se através da fermentação do arroz pela levedura vermelha
Embora em muitos casos se revele eficaz na redução dos níveis de colesterol total e colesterol LDH (colesterol mau), existem algumas vicissitudes que comprometem a prescrição generalizada. A sua atividade terapêutica é principalmente devida à monacolina K, uma molécula estruturalmente muito semelhante à lovastatina. Vários estudos comprovaram que o consumo diário de uma dose de monocolina K entre 3 e 10 mg/dia causaram redução dos níveis plasmáticos de colesterol LDL de 15% a 25%, em 6 a 8 semanas. Esta redução foi idêntica à que se obteve utilizando uma estatina em regime de baixa/moderada intensidade (pravastatina 40 mg, simvastatina 10 mg ou lovastatin 20 mg (1). A dose desta “estatina like” presente no arroz vermelho é no entanto muito variável consoante o preparado comercial. Daí que alguns deles sejam ativos e outros não. Também não temos garantia que a composição deste produto seja aquela que está afixada no rótulo, uma vez estes compostos estão englobados no regime dos suplementos alimentares e, como tal, não estão sujeitos à aprovação e controlo pela Apifarma.
A LAV obtem-se através da fermentação do arroz pela levedura vermelha (Monascus purpureus) mas pode também conter citrinina, uma micotoxina com possível toxicidade renal e hepática. Ao escolher um destes produtos é conveniente verificar se o rótulo menciona explicitamente “Sem citrinina”.
Apesar do mecanismo de ação ser semelhante às estatinas, o risco de efeitos secundários é mínimo (mialgia leve em indivíduos previamente e severamente intolerantes às estatinas), principalmente quando se utilizaram doses baixas (entre 2 a 10 mg). A associação de outros componentes bioativos que fazem parte deste produto natural, ou usados em associação com outros produtos, podem melhorar o efeito terapêutico, caso da associação LAV com a berberina (alcalóide da planta Berberis Vulgaris), dos esterois vegetais, dos extratos de alcachofra e da ezetimiba, fármaco frequentemente utilizado em associação com as estatinas para a obtenção de valores de colesterol muito abaixo dos valores normais. É precisamente pela necessidade atual de obter valores muito abaixo dos valores normais, em especial nos doentes com risco elevado ou muito elevado de acidente cardiovascular, que cada vez mais se utilizam os regimes de estatina de alta intensidade (capazes de diminuir 50% ou mais o nível de LDL) e de moderada intensidade (redução entre 30% a 50%), em detrimento do regime de baixa intensidade (redução inferior a 30%). Daí a preferência do uso das estatinas mais potentes como sejam a rosuvastatina, atorvastatina e pitavastatina.
Por todas as razões acima indicadas é preferível, em minha opinião, prescrever a estatina pura, sem contaminantes, com dose titulada e, quase sempre, muito mais económica. Através da escolha da estatina mais apropriada a cada caso (rosuvastatina, atorvastatina, pitavastatina, fluvastatina, sinvastatina, pravastatina ou lovastatina) e da respetiva dose, será, quase sempre, possível obter os melhores resultados.
A LAV pode, porém, representar uma ferramenta terapêutica útil no manejo da hipercolesterolemia ligeira a moderada em doentes de baixo risco, sobretudo nas raras situações em que não foi possível o tratamento com estatinas ou no caso de diagnóstico de um efeito nocebo.
1-Cicero AFG, Fogacci F, Zambon A. RedYeast Rice for Hypercholesterolemia: JACC FocusSeminar. J AmCollCardiol. 2021 Feb 9;77(5):620-628. doi: 10.1016/j.jacc.2020.11.056.
Prof. Ovidio Costa. Cardiologista. Prof. Faculdade de Medicina do Porto.