Sociedade

Celso Pinho um dos primeiros sinaleiros da Praça Luís Ribeiro

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Celso Pinho, 89 anos, foi o primeiro polícia efetivo a chegar ao posto da Polícia de S. João da Madeira, em 1957. Era um dos sinaleiros que estava no centro da praça, a regular a circulação rodoviária que vinha de norte e do sul dos país.

Jornal ´O Regional’ - Diz que foi o primeiro efetivo a chegar ao posto de S. João da Madeira da PSP, em 1957. Descreva a que esquadra tinha a polícia nessa altura…
Celso Pinho - Exatamente! Fui mesmo o primeiro efetivo chegar. Andei na tropa, em 1954, e depois vim para a polícia em 1957. Era uma esquadra constituída, inicialmente, por 10 guardas e o subchefe que vieram para aqui, de princípio. Quando recebi a chamada para vir para S. João da Madeira não hesitei. Vim logo. Lembro-me que, quando cá cheguei, ainda andavam lá os operários comos acabamentos no edifício, que ficava ali na rua João de Deus. É curioso que um dos trabalhadores até me disse para eu entrar com o pé direito (risos).

Que tempos eram esses?
Eram tempos difíceis e muito complicados. Era posto e não esquadra, só mais tarde é que passou a esquadra. Não tínhamos praticamente nada. Não havia carro de patrulha, tínhamos apenas um telefone fixo e mais nada. Era um tempo em que o trânsito passava todo pela Praça Luís Ribeiro, Norte-Sul. Era uma confusão enorme, tinha muito mais movimento naquele tempo do que tem hoje, porque agora tem variante e outras alternativas. Normalmente íamos para a rua e ficava um agente de plantão, o comandante de posto e o resto vinham para a rua.
Na verdade, éramos muito poucos para tanto movimento no centro. Vinham de todos os lados e passavam obrigatoriamente pelo centro da praça. A juntar a tudo isto, as milhares de pessoas que trabalhavam nas indústrias sanjoanenses. Fazíamos dois turnos, um de dia e outro de noite, quatro horas de dia e quatro horas de noite. Um dado curioso: antes da chegada da PSP a S. João da Madeira, quem policiava era a GNR, no centro, depois eles dividiram aquilo, e ficaram com uma parte mais para o sul, e a polícia ficou com a parte mais a norte. Mais tarde, juntou-se tudo, e a polícia acabou por fazer o policiamento por completo.

Disse-me que soube deste concurso através do Diário da República, veio, e depois como é que fez a sua vida cá? Quem era o Celso Pinho nessa altura?
Confirmo. Soube e concorri logo, sem a certeza se ficaria ou não. Era um jovem como tantos outros, cheio de sonhos, e com vontade de vencer. Quando vim para S. João da Madeira vim para uma casa alugada na Rua Padre Cruz.

Ganhava-se bem nessa altura?
Não chegava a 700 escudos. Não dava para a renda da casa, naquele tempo. Era muito difícil, pois eu era de Arouca e passei a fazer toda a minha vida cá. Mais tarde, casei, nasceram os meus filhos, e fizemos toda a nossa vida nesta que agora é cidade, e que se desenvolveu como poucas aqui na zona. S. João da Madeira destacou-se sempre pelo seu bairrismo, e a prova disso é a festa grande.

Recorda-se de algum episódio curioso que, enquanto polícia, tenha vivido nessa altura?
Há uma coisa que quero referir. Era uma cidade com muita gente de um lado para o outro, e as pessoas sempre respeitaram a polícia. É curioso que, quando disse aos meus pais que vinha para S. João da Madeira, disseram-me, em jeito de brincadeira, que vinha para a terra do unhas negras e que a cidade tinha má fama (risos). Rapidamente percebi que o povo adorava a polícia e as pessoas respeitavam-se. Quase não havia ocorrências, um caso ou outro caso de alguém quee desobedecia. Desde que me tornei polícia, tive apenas dois casos em que tive que levar as pessoas a julgamento. Aqui, em S. João da Madeira, ainda não tinha tribunal, como havia em Oliveira de Azeméis. Não tínhamos carro de patrulha, quando tínhamos uma captura para fazer, ou tínhamos que arranjar um carro próprio ou de algum amigo, colega ou transportes públicos. Houve um caso engraçado em que o indivíduo saiu de carro para o tribunal de Oliveira de Azeméis, e nós fomos de transporte público, e veio o cobrador e não tínhamos dinheiro para pagar o bilhete.
Outro caso engraçado que eu tive, foi uma rixa no futebol, onde a malta se pegou no fim do jogo, e eu e outros colegas meus interviemos. Um indivíduo até me deu um pontapé numa perna, mas foram as únicas coisas que eu vivi da polícia.

A dada altura, deixa a polícia e vai para uma escola de condução trabalhar como instrutor. Não se sentia realizado naquilo que fazia?
A determinada altura sim, porque o vencimento era muito pouco e eu queria mais. Tinha uma família a quem tinha que dar de comer. Não era, na verdade, cansaço em ser polícia, porque eu adaptei-me bem.

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