Nesta quadra, todos pensamos em prendas. Não é de estranhar. Estamos no Natal. É ver a azáfama que percorre o país. De lés a lés.
Infelizmente, as prendas não chegam à mão de toda a gente. Porque nem todos as podem comprar. Não faz mal. O que importa é viver o espírito natalício. Festa de carinho. De benquerenças. De trocas de afectos cordiais.
Conta a lenda que, no tempo de Jesus, havia na Palestina um menino de seis anos. Chamava-se Tiago. O pequeno era pastor. Na noite de Natal, andava a pastar ovelhas. Na companhia do pai e dos irmãos.
De repente, ele descobre multidão de anjos no Céu. Cantam alegremente: “Nasceu Jesus, o Salvador. Em Belém de Judá!” Tiago fica trespassado. A felicidade não lhe cabe no peito. E lá parte. Muito alvoroçado. Na companhia dos outros. Para a vizinha cidade de Belém. Ora, Belém, em aramaico, quer dizer: “Casa do Pão”. Foi precisamente na ânsia de contemplar o Pão Vivo, que o Senhor Jesus veio trazer ao mundo, que o pequenito se foi, no meio dos pastores, até Belém.
Como sempre acontece, no meio dos grandes, os pequeninos não contam. Assim, os outros pegureiros lançaram mão de muitas prendas. Leite. Queijo. Mel. E outras delícias. Infelizmente, para Tiago nada havia. Ele nada podia oferecer. A não ser, profunda mágoa de não levar nada para Jesus.
Estava-se no verão. Não, no Inverno. Ao contrário do dia vinte e cinco de Dezembro. Dia em que celebramos o Natal. Esta data foi escolhida, no século terceiro. Só por conveniência de significado. A partir de vinte e cinco de Dezembro, os dias começam a crescer. O sol permanece por mais tempo no horizonte. E Cristo é a nova luz do Mundo.
Ao certo, não se sabe o dia, em que Jesus nasceu. Apenas, por exclusão de partes, se fica a saber que não foi no Inverno. De facto, as Sagradas Escrituras apenas afirmam: “os pastores andavam nos campos. A pastar os rebanhos”. Se fosse no Inverno, ninguém poderia suportar, ao relento, as baixas temperaturas que se fazem sentir nas noites invernosas do Oriente.
Acontece que o nosso pequeno Tiago também foi ao presépio. Na companhia dos demais pastores. Foi. Mas quê? Ninguém deu por ele. Tiago não levava prendas. Nada tinha para oferecer. Retirou-se para um canto. A ver a cena correr.
Era muito o povoléu. Com prendas e mais prendas. Por isso, não admira. Nossa Senhora, com o Menino no regaço, começou a fraquejar. Devido a isso, deitou o olhar em roda. A procurar ajuda.
Impossível! Todos traziam presentes. Toda a gente queria ofertar. Aflita, a Senhora olhou em roda. Logo, deu de caras com a figura mansa e terna do pequenino Tiago. Absorto. Enlevado. A contemplar Jesus. Não trazia prendas. Nada nas mãos! Óptimo! Precisamente, o que era preciso. “Tiago!” – chama a Senhora. “Tiago, olha cá! Pegas no Menino Jesus, enquanto eu recebo as prendas das visitas?”
“Oh, se pego!” - respondeu o pequeno, abrindo o rosto num grande sorriso.
Já com Jesus no colo, o petiz pensou. Muito contente: “Não trouxe nada! Foi o que valeu. Fiquei com as mãos livres. Pude pegar em Jesus!”
Hoje como ontem. Jesus prefere muito mais o colo dos “Sem Nada” e “Sem Abrigo” ao colo daqueles que vêm de mãos cheias. Mas de alma triste. E coração vazio.
Ricardo Stockler