Cultura e Lazer

NoMad duo no Marília Rocha

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O concerto do AcáMúsica de 6 de novembro trouxe ao Auditório Marília Rocha o NoMad duo.

Uma dupla de instrumentos nada comum no panorama da música de câmara mundial, executados pelos exímios intérpretes Ricardo Antão, no eufónio, e Jonathan Silva, no vibrafone e outras percussões. Assentes na temática da vida nómada de um instrumentista, o duo apresentou um repertório que enquadrou diferentes sonoridades representativas de diversos pontos do planeta, fazendo uso de obras originais assim como arranjos dedicados à especificidade do duo.
A “viagem” iniciou-se com um arranjo do tema tradicional “Wayfaring Stranger”, cuja melodia executada pelo eufónio transportou a plateia para o imaginário da sonoridade do espiritual negro, que por sua vez era sustentada e elevada pelo acompanhamento harmónico do vibrafone que lhe conferia todo o misticismo inerente, num arranjo musical produzido pelo próprio Ricardo Antão.
Por entre cada elemento de repertório, foi o próprio duo o responsável pelo comentário ao concerto, procurando um adequado enquadramento estético das obras, realçando os elementos sonoros que permitiam conduzir o discurso musical. Esta postura revelou-se particularmente interessante nas peças que utilizavam técnicas instrumentais estendidas, ou seja, que resultam de formas de execução menos comum, como no caso das cinco peças que edificam os “Alicerces Japoneses” do jovem compositor Francisco Ribeiro, numa estética mais contemporânea, onde o eufónio deambulou entre os sons areados sem definição de altura, à mistura de canto e vibração labial, vulgo multifónicos, procurando a cada passo uma referência melódica que se fundisse na harmonia pentatónica que remete para a orientalidade, presente sobretudo na poética do vibrafone. Depois, o discurso foi gradualmente se aproximando de sonoridades mais ou menos jazzísticas, europeias, do sul e norte da América, fruto das obras de Paulo Perfeito, cuja “Good Vibes” antecedeu a melancolia de “Água e vinho” de Egberto Gismonti, num arranjo de Francisco Ribeiro, e seis das dez “Diminutives” de Nathan Daughtrey, peças de um minuto compostas pelo compositor/percussionista americano durante o ‘lockdown’ de 2020. A viagem terminou com duas referências à cidade do Porto, mencionada como ponto de conexão do duo, com referência à paisagem das suas margens, feita por Álvaro Silva em “Prelúdio (pelas margens do rio douro)”, pinceladas por sonoridades quase impressionistas criadas pelas harmonias articuladas do vibrafone e pela sustentação melódica do eufónio. Depois viveu-se a cidade, pela obra de Telmo Marques “Scenes from the city”, percorrendo diferentes sensações sonoras que tentaram transportar a plateia para o parque, as ruas, a noite, a vida da cidade. Uma quase ‘volta ao mundo’ em 60 minutos que, fruto da criteriosa escolha de repertório feita pelo duo e pela abordagem comunicativa usada, se revelou eficazmente apropriada para reconfortar uma manhã que havia nascido friamente outonal.
O ciclo de concertos segue já no próximo 4 de dezembro, com o Coro de Câmara da Escola de Música de Esposende.

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