Rostos sem Máscara - 51 - Manuel Barbosa: o sanjoanense que colabora nas coleções de alta-costura da Chanel, em Paris
Sabe fazer um sapato completo à mão e assume ser um homem feliz com a vida e pela arte que aprendeu. Hoje é um nome conhecido e reconhecido na marca internacional Chanel, em Paris.
Manuel Barbosa, 77 anos, nasceu e reside em S. João da Madeira. Nasceu em 1945, e cedo começou a trabalhar, ainda não tinha 10 anos. A mãe pediu ao professor se o dispensava para a ajudar na criação dos sapatos. E, assim foi! Quando concluiu o exame da 4.ª classe, dedicou-se a tempo inteiro a esta área, junto de um familiar.
Conta que, antigamente, “trabalhávamos com os mestres e não íamos às fábricas”. Uma vida bastante “atribulada”, pois o “calçado não foi uma paixão. Foi, sim, uma necessidade. Sinto falta de não ter jogado à bola, de ter brincado mais”.
Mas, vamos recuar no tempo. Manuel Barbosa, aos 18 anos, entendeu que já tinha aprendido tudo. Por isso, “decidi ir para a tropa como voluntário. Estive 5 anos nos paraquedistas. Passei em Angola e Moçambique. E, quando regressei, voltei para aquilo que sabia fazer. O certo é que o ramo do calçado sempre me acompanhou pela vida fora. Aquilo que eu aprendi a fazer na área do calçado não é o que se aprende atualmente. Eu sei fazer um sapato completo à mão”.
Anos mais tarde, numa altura em que dava aulas de corte no Centro de Formação de Calçado em S. João da Madeira, um responsável por uma marca francesa pretendia alguém com as suas referências. Viu o papel, respondeu e aceitaram-me. “Lá fui para França, com um contrato de cinco anos. E lá fiquei ligado a esta marca até aos dias de hoje, mesmo estando já reformado. Sinto que gostam muito de mim. A minha vida mudou por completo, quando entrei para esta marca”.
Na empresa, onde já foi condecorado, nada é feito com máquinas. É tudo manualmente, tanto para as coleções como para os clientes. “E isto é uma paixão. Fazer sapatos à mão não é como os fazer com as máquinas, começando logo pela qualidade. Por isso, é que as pessoas, por vezes, não entendem o valor elevado de determinados sapatos. Mas é o preço que, na verdade, custa, porque tudo ali é da melhor qualidade”.
O senhor Barbosa fala com paixão do que faz, e sempre fez. Sente-se um felizardo. “Dou as minhas dicas. Eles conhecem a minha experiência e reconhecem tudo aquilo que sei. Não dou pelo tempo passar. É bom sentir a forma como me respeitam e tratam nesta grande marca. Fico orgulhoso de aparecer em revistas, ao lado de toda a equipa. É naturalmente um orgulho para mim. Posso dizer que, ao fim de todos estes anos, sou um homem feliz com a vida e pela arte que aprendi”, enfatiza.