Política

Moisés Ferreira: “O sistema de saúde não serve para arranjar as pessoas que são desarranjadas pelo capitalismo”

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Moisés Ferreira foi candidato à Câmara sanjoanense com apenas 19 anos (em 2005) e assegura que se movia pelos mesmos valores de hoje. Acusa o PS e toda a direita de travarem avanços na legislação laboral.

Quando entrou para a Assembleia da República (AR), em 2015 — tendo saído na sequência dos resultados das legislativas deste ano — já levava bagagem política. Moisés Ferreira foi candidato à Câmara sanjoanense com apenas 19 anos (em 2005) e assegura que se movia pelos mesmos valores de hoje. Acusa o PS e toda a direita de travarem avanços na legislação laboral e todos os governos de terem negligenciado a saúde mental. Licenciado em psicologia, com experiência profissional como formador, o sanjoanense afiança que continuará a lutar por uma sociedade mais justa e tem na psicologia interesse pelo estudo e investigação. O bloquista diz ainda que tem como referência política a figura coletiva do operariado sanjoanense.

 

Foi candidato à Câmara de S. João da Madeira aos 19 anos. Tinha consciência da responsabilidade ou só se candidatou por saber que era difícil lá chegar? Quais eram as suas motivações?
Independentemente de ter 19 anos não digo que foi algo irresponsável, tinha noção das coisas. O que me motivava continua a ser o que me motiva hoje a participar no que quer que seja: mudar a sociedade. Olho para a sociedade, seja a um nível micro como S. João da Madeira seja a nível nacional ou europeu, e acho que ela precisa de mudar. Temos uma sociedade muito centrada em determinados valores, como egoísmo ganância, que acho que são prejudiciais para a maioria. Numa palavra: capitalismo. Acho que é possível uma sociedade onde imperem valores da igualdade e liberdade. Na altura, parecia-me que S. João da Madeira teria de mudar e tinha possibilidades para mudar. Hoje, continuo quase com a mesma avaliação. S. João da Madeira tem muitos problemas infraestruturais já resolvidos há muito tempo (água canalizada, saneamento, arruamentos), ainda bem. Por isso, acho que tem possibilidade de se dedicar às políticas que não dão inaugurações, mas dão mais qualidade de vida às pessoas

Que avaliação faz dos autarcas sanjoanenses dos últimos anos?
Não tenho notado grande mudança de políticas. De Manuel Cambra lembro-me do seu último mandato, mas lembro-me bem das políticas de Castro Almeida, Ricardo Figueiredo e agora Jorge Sequeira e não me parece que tenha havido grandes alterações. Há a vontade de mudar o piso da praça e fazer uma nova inauguração, discutir as piscinas, mas há muito pouco sobre apoios sociais, garantir que bens essenciais como a água são para todos e não estão semiprivatizados. Continua a haver um fetiche de obra para inaugurar e a praça é o expoente máximo disso. É preciso ter pessoas na praça, mais comércio, um tipo de comércio que chame as pessoas, isso é que era preciso fazer, mas não vejo política de custos controlados no centro da cidade e para negócios emergentes. Na minha perspetiva, os vários executivos municipais continuam a preocupar-se muito com pedra e betão, quando já devíamos estar a ir para uma nova geração de políticas. O novo estacionamento no centro cívico não faz sentido nenhum, numa altura em que se diz que é preciso que os centros das cidades sejam para as pessoas e não para carros. Mais uma vez, são políticas que se preocupam com a estrutura, mas não com as pessoas, com preocupação social.

A política autárquica ainda o seduz?
Sim, gosto de política autárquica e vou acompanhando, até porque tem impacto na minha vida. No Bloco, sempre que posso participo em discussões da concelhia, aqui e noutros concelhos. Gosto porque é muito próxima das pessoas e capaz de mudar coisas muito concretas.

“Se há figura que é uma referência para mim é o trabalhador”

Tem referências políticas em S. João da Madeira?
Talvez uma pessoa coletiva. S. João da Madeira gosta de se apresentar como a cidade o trabalho, e bem. Mas não dá nenhum destaque à figura do trabalhador. Acho que se há figura que, de alguma forma, é uma referência para mim é o trabalhador. Primeiro, foram eles que construíram a cidade, que ninguém tenha ilusão: não foram três ou quatro industriais que por ter algum capital montaram empresas, porque sem os trabalhadores que vieram de tantos sítios para aqui a cidade não tinha sido construída. Segundo, os trabalhadores participaram em momentos históricos brutais, estiveram na onda grevista anos 40 contra o regime fascista, o que foi de uma enorme coragem, estiveram depois do 25 de abril e vários anos muito envolvidos para conseguir a semana das 40h, temos operárias que estiveram envolvidas em greves pela igualdade salarial, por exemplo na indústria da chapelaria. Claro que são referências, isso fez não só a cidade avançar – eram eles que produziam riqueza – mas fez também os direitos sociais avançarem, ao conseguir reduzir o horário de trabalho e o aumento do salário.

Ar­tigo dis­po­nível, em versão in­te­gral, na edição nº 3891 de O Re­gi­onal,
pu­bli­cada em 12 de maio de 2022

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