Opinião

A pianista Maria Isabel Rocha

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Maria Isabel dos Reis Ferreira da Rocha nasceu no lugar da Quintã, a 18 de outubro de 1947.

Apesar de ser o mais pequeno município português, com uma área de 7,94 km2 e uma população que não vai muito para além dos 22 mil habitantes dentro do seu perímetro urbano, S. João da Madeira pode, no entanto, orgulhar-se de contar entre os seus filhos com nomes grandes das Letras e das Artes. Desses filhos, que nos seja permitido destacar, sem menosprezo pelos demais, estes três: Serafim Leite, João da Silva Correia e Maria Isabel Rocha, justamente por serem os maiores entre os grandes e aqueles que, pelos seus méritos e pelas qualidades evidenciadas, tiveram projeção internacional.
Se é verdade que, em relação àqueles, o reconhecimento dos seus conterrâneos tem sido publicamente manifestado, por diversas ocasiões e de variadas formas, já em relação à pianista Maria Isabel Rocha pouco ou nada terá sido feito nesse sentido. E, no entanto…
Maria Isabel dos Reis Ferreira da Rocha nasceu no lugar da Quintã, a 18 de outubro de 1947. É filha de D. Marília Augusta dos Reis Ferreira da Rocha (*), professora de Educação Musical e de Canto Coral no Colégio Castilho e na Escola Industrial de S. João da Madeira, e do empresário Joaquim Ferreira da Rocha, ele também com propensão para a música. Esta circunstância haveria de ser determinante para o rumo que tomou a sua vida. Mais atraída pelo piano da mãe do que pelo violino do pai, foi com ele que se iniciou precocemente na música. Aos quatro anos tocava, de ouvido, os trechos de que a sua mãe se servia para as aulas particulares, ministradas numa dependência da casa da família. Pode, assim, dizer-se que a Maria Isabel nasceu com a música e para a música.
Frequentou a escola da Quintã e, depois, o Colégio Castilho, onde foi aluna de sua mãe, na disciplina de Canto Coral. Foi com ela também que fez toda a sua formação musical de nível geral, concluiu o ensino liceal e diplomou-se como aluna da pianista Helena Sá e Costa, no Conservatório de Música do Porto, com a nota final de dezanove valores.

É por essa altura que é convidada a participar num “sarau artístico”, que teve lugar no “Cine-Teatro Avenida”, a 10 de abril de 1968. Foi o primeiro de muitos concertos de Maria Isabel Rocha na sua terra natal. Uma estreia para “abrilhantar” a primeira exposição de pintura de um ex-colega de turma do Colégio Castilho, Luís Manuel da Silva Pinho, um jovem artista plástico sanjoanense de quem muito se esperava, não tivesse a vida dele sido interrompida, algum tempo depois, num trágico acidente de viação.
Nos anos que se seguiram, a pianista sanjoanense frequentou, como executante, o curso de Piano, na Academia Chigiana de Siena – Itália, dirigido por Guido Agosti, na qualidade de bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian. Depois, na Academia Liszt de Budapeste, assistiu aos Seminários Béla Bartók.
Em 1971, Isabel Rocha encontrava-se a frequentar o curso de Filologia Românica, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, quando ingressou como professora de Piano do Conservatório de Música daquela cidade, mediante concurso de provas públicas, através do qual ficou aprovada para lecionar os cursos geral e superior de Piano. De aluna brilhante da instituição, passou a professora prestigiada, tendo como colegas a sua própria mãe e Helena Sá e Costa, entre outros docentes que contribuíram para a sua formação.
Enquanto pianista de projeção internacional, o seu percurso nunca sofreu interrupções. Para além das experiências atrás referidas, Maria Isabel Rocha frequentou “masterclasses” com Karl Engel, Yvonne Lefébure, Jacques Stehman, Vlado Perlemuter, Helena Sá Costa, Nadia Boulanger, Edouard von Remoortel, Carlos Cebro e Filipe Pires. Desenvolveu uma intensa carreira a solo, apresentando-se a concerto em Portugal e no estrangeiro, com destaque para uma “tournée” de seis concertos na Bélgica, em 1978, “onde colheu o aplauso do público e apreço da crítica”. Na ocasião, gravou um disco de longa duração para a editora “Duchesne” de Liège, totalmente preenchido com música portuguesa do século XVIII. Em dezembro deste mesmo ano regressou à terra que a viu nascer, para um concerto integrado nas “Jornadas Culturais de S. João da Madeira”, atividade que tinha a chancela do Grupo Amador de Teatro (NAT) e o apoio da Câmara Municipal.
Em 1985, Maria Isabel Rocha é convidada a participar no “Festival Karol Szymanowski”, que decorreu entre os dias 10 e 15 de setembro, na cidade de Zakopane – Polónia. Um ano depois, volta a ser convidada para uma série de concertos, desta feita em S. Paulo, no Brasil. O REGIONAL publicou a notícia na primeira página da edição de 15 de março de 1986, com o título “MARIA ISABEL ROCHA – Uma artista em constante ascensão”, acompanhada de uma fotografia da pianista.
Do seu vasto currículo, de que aqui só nos é possível dar uma pálida imagem, referiremos ainda que foi solista com Orquestra sob a direção dos Maestros Costa Santos, Silva Pereira, Edouard von Remoortel, Gunther Arglebe, Ferreira Lobo, Roberto Tiribiçá, Emmanuel Koch e Camargo Guarnieri.
Fez parte do “Trio Tritonus”, com sua irmã Teresa Rocha (Violoncelo) e Gustavo Delgado (Violino). O “Trio” atuou em S. João da Madeira, na comemoração do centenário de nascimento do reverendo dr. Serafim Leite, a 6 de abril de 1990, uma realização da “Escola Secundária Dr. Serafim Leite”, com o patrocínio da Câmara Municipal e a colaboração da Academia de Música.
A forte ligação que Maria Isabel Rocha estabeleceu com o Conservatório de Música do Porto, levou-a a integrar a Direção, desde 1998 até se aposentar, em 2010.
Atualmente, Maria Isabel Rocha vive em Gaia, rodeada pelo carinho da família. Uma das suas duas filhas seguiu os desígnios das gerações que a precederam: é professora de Violoncelo no Conservatório de Música de Coimbra.
(*) Marília Rocha, mãe de Maria Isabel Rocha, foi homenageada pelo Rotary Clube de S. João da Madeira, em 1987. “Uma homenagem que tardava”, assim se referiu a ela o diretor de O REGIONAL, Manuel Pereira da Costa, na sua rubrica “Praganas”, acrescentando que “quando um dia se fizer a história da atividade musical em S. João da Madeira, o primeiro nome que surgirá será por certo o de Marília Rocha. Professora jubilada do Conservatório de Música do Porto, Marília Rocha despertou e desenvolveu as qualidades musicais de sucessivas gerações de alunos. E foi a animadora por excelência do meio musical sanjoanense”.

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