Opinião

Um parlamento vazio de conterrâneos

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Os resultados das eleições legislativas foram extremamente escalpelizados, ao fim destes dez dias. Sucederam-se a enumeração de várias evidências: o aumento da participação dos eleitores; a incerteza associada às sondagens, sobretudo pelo número de indecisos; a obtenção de uma maioria absoluta.
Tudo isto contribui para o falhanço das previsões, mesmo aquela que aqui apresentei no dia 27 de janeiro.
O apelo ao eleitorado moderado funcionou. A “maioria silenciosa”, a tal que decide eleições, optou pelo centro esquerda, brindando o Partido Socialista com um mínimo de 117 deputados.
Apresentaram-se as mais variadas explicações, as quais não enumerarei, para não repetir argumentos de outros e sobretudo porque ao fim deste tempo, os leitores já terão enraizado os resultados e cada qual assimilou a razão para a obtenção da maioria absoluta.
No balanço das eleições são feitas algumas comparações com os resultados anteriores.
O Regional fez o mesmo, comparando para a votação em São João da Madeira, os resultados destas eleições com as legislativas de 2019. Um exercício curioso, atendendo à semelhança de líderes nacionais e à mudança de cabeças de lista pelo distrito. As alterações relativamente ao panorama nacional não foram significativas. Os dois partidos mais votados a nível nacional foram igualmente os que receberam mais votos no concelho. Ficou demonstrada a dispersão de voto por várias forças políticas, nenhuma delas alcançando um destaque significativo, ao não atingir um resultado acima da dezena percentual, o mesmo que aconteceu a nível nacional.
Se fizermos a comparação entre estas eleições e as autárquicas de setembro de 2021, ou seja, quatro meses depois, podemos verificar uma maior adesão de eleitores, contrariando a máxima de menor abstenção nas eleições locais. Em setembro votaram 9.708 eleitores e este janeiro compareceram 11.535 votantes. Este aumento contrariou a redução de 33 eleitores, nos cadernos eleitorais, demonstrativo da tendência dos últimos anos, que importa contrariar.
Com mais votantes nas legislativas, justifica-se facilmente a maior votação tanto do PS (de 5.009 em setembro para 5.225 votos), como do PSD (de 3.119 para 3.499 votos). Embora para ser correto, seja necessário juntar a estes últimos, os votos alcançados pela Iniciativa Liberal (607 votos) e pelo CDS-PP (181 votos), significando isto que as três forças separadas tiveram a preferência de 3907 votantes, o que comparando com as autárquicas, aumenta a diferença positivamente em quase oito centenas de eleitores.
Ao nível dos restantes partidos, é curiosa a inversão de votações entre Bloco de Esquerda e CDU, com mais eleitores a preferirem esta última nas autárquicas e o contrário nas legislativas. Obviamente, em pequena percentagem.
Outra curiosidade destas eleições foi a diminuição dos votos nulos e em branco. A tendência local foi idêntica: menos de metade comparando apenas as sucessivas legislativas. Fazendo a mesma analogia com as autárquicas do último mês de setembro, a queda é semelhante, significando que este voto de protesto ficou residual em janeiro.
Um facto a destacar, para o concelho, é a eleição de um único deputado oriundo de São João da Madeira, Pedro Nuno Santos, pelo PS. Caso seja reconduzido como membro do Governo, o concelho ficará sem representação parlamentar.
Facto sempre a lamentar.
Essencialmente por não haver vozes a defender os interesses do concelho, na Assembleia da República.
Discordantes ou não da maioria.
Depois de quatro eleitos em 2019, traduzindo-se a representação em três grupos parlamentares e um membro do governo, para o quadriénio 2022 – 2026 haverá maior dificuldade em colocar os problemas da localidade, junto do poder legislativo.
Os vários partidos políticos terão que encontrar outro tipo de soluções, para defenderem os interesses de São João da Madeira.

 

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