Opinião

No domingo, que ninguém fique em casa!

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Quando este jornal chegar às bancas, faltarão três dias para o voto. Uma em cada dez pessoas assiste em casa, sob isolamento, à ponta final desta campanha. Ao cabo destes meses, há ainda quem não perdõe uma crise política artificial quando o país precisava de segurança e estabilidade para responder à pandemia. Fomos trazidos aqui pela intransigência de António Costa na recusa de medidas urgentes, propostas pela esquerda, para estancar a sangria de profissionais no SNS e responder pelos salários e pensões corroídos pela inflação. Uma corrida para eleições feita em nome de uma maioria absoluta que, afinal, era uma miragem…
Desdenhando dos partidos que o levaram ao cargo de primeiro-ministro em 2015, Costa mostrou-se sozinho e tentou desacreditar a possibilidade de entendimentos à esquerda. Sem oferecer saídas, deu passagem à direita e só nos últimos dias, depois da enésima insistência de Catarina Martins, o PS começou a mudar de agulha. Não terá maioria absoluta e, reconheceu, vai mesmo ter de dialogar depois das eleições.

É possível um acordo de maioria à esquerda?

Ouvimos comentadores ineteressados repetirem que o bloqueio criado pelo PS no orçamento será mantido depois das eleições e que um acordo à esquerda é impossível. Será mesmo assim? Voltemos ao nascimento da geringonça. Em 2015, o PS tinha ido às eleições com um programa que incluía a facilitação dos despedimentos coletivos, o congelamento das pensões por mais quatro anos (1660 milhões a tirar aos pensionistas), a entrega de 2550 milhões de euros às empresas baixando a sua contribuição para a segurança social (prejudicando a sustentabilidade que nos garante a pensão futura). Claro que, se o PS tivesse tido a maioria absoluta, tudo isso teria acontecido.
Mas essas três medidas morreram na praia porque o Bloco de Esquerda as impediu. Não foi fácil, mas conseguimos. Impossível recuar nestas medidas, dizia o PS. É necessário derrotá-las, disse o Bloco. O Bloco venceu e do acordo que impediu estes projetos do PS, resultou um governo estável que durou quatro anos.
O tempo não volta para trás. Hoje, o país exige muito mais porque a nossa vida está a ser atropelada pela pandemia e pelo desgaste do SNS, pelos salários baixos, pela precarização do trabalho dos jovens, três em cada quatro estão desempregados ou ganham menos de 900 euros.
É um novo ciclo que se tem de abrir, com outra dimensão e outro alcance. Quando pomos a saúde e o trabalho no novo contrato que queremos, é porque temos de quebrar o ferrolho do poder económico que quer transformar a saúde num medo e o medo num negócio - há lá melhor negócio do que vender o medo? - e que coloca as relações de trabalho no caminho de Odemira. O novo ciclo será a eliminação do medo.

Quem derrota a direita e a extrema-direita?

Se Rui Rio falasse tanto do seu programa como fala do seu gato, muito poucos o achariam simpático. Começar a entregar a segurança social às companhias seguradoras, eliminar o acesso gratuito à saúde, congelar o salário mínimo, recordar com saudade a suposta eficácia da justiça do tempo da ditadura. É programa escondido com rabo de fora e esse programa não tem do seu lado a maioria do povo.
Ora, desde 2015 que sabemos que a direita perde se não tiver mais deputados no parlamento. O voto no Bloco soma contra a direita, assim se verá de novo em 2022. Mas, além de impedir um governo de direita, o voto no Bloco tem uma segunda potência: reforçado com o terceira força política, é o Bloco que pode derrotar Ventura no domingo, como o próprio candidato da extrema-direita já admitiu.
Estas eleições foram um erro e poderiam ter sido evitadas, não fosse a sede de maioria absoluta de António Costa. Mas, aqui chegados, cabe-nos fazer do dia 30 um ponto de arranque de um novo ciclo à esquerda, que responda pelos salários, pelas pensões e pelo serviço nacional de saúde.
No domingo, mesmo que seja só mesmo para ir votar, que ninguém fique em casa!

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