Opinião

Eleições Autárquicas – Um Direito e um dever a que ninguém se pode furtar

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E julgareis qual é mais excelente,
Se ser do mundo rei, se de tal gente.
Luiz Vaz de Camões ``Os Lusíadas``

Parafraseando o que foi dito por um dos grandes presidentes brasileiros (Kubitschek de Oliveira) sempre achei que os ares hialinos das Terras de Santa Maria têm o condão de lembrar aos seus concidadãos que nasceram para serem grandes – se não fossem faltariam ao seu destino. É o que de absoluto diz respeito a S. João da Madeira, que num súpito histórico subiu de aldeia e freguesia dependentes a vila, cidade, concelho, comarca – e por via dessas nobrecias atingiu o estatuto de dona e senhora do seu destino. Encarando estas nobrecias sob o prisma da vida em comunidade, o primeiro estágio da democracia é que todos somos iguais. Coisa que em teoria é a maior banalidade do mundo, mas na prática foi tão difícil que a humanidade levou milhões de anos até encontrar um sistema que conseguisse tratar todos por igual. Sem esquecer que da teoria à prática vai um caminho de pedras, pois o mundo em comunidade o que aspira é a paz serena e criativa, mas muitas vezes a realidade o que tem para nos dizer é que da varanda dos suspiros de Julieta à cobra no cesto de Cleópatra – a distância é tão pequena como corações que batem desencontrados.
Politicamente falando, achar o ninho da carriça (e mais escondido não há) não é cousa de somenos, sendo a política uma espécie de barco no mar alto – e pois os seus horizontes são determinados pela superfície das águas e as paredes do céu. O que vem a dar em que só um timoneiro experimentado consegue achar o rumo e segui-lo com um desvelo de-alma-e-coração.
Todas essas capacidades são por assim dizer o desenho na face do actual presidente. Na verdade, aquando das eleições anteriores, o candidato tinha a seu favor aquilo que na altura se podia augurar como uma promessa. Desta vez quem se candidata tem obra feita, por assim dizer não olha para o passado mas apoia-se nele como prova-real do mérito não de palavras, mas de obra feita.
Como cidade industrial e comercial, num espaço incrivelmente curto foi de aldeia a vila, de vila a cidade, de cidade a um dos mais seguros e progressivos municípios do país.
Levar esta Nau ao mar alto, esta águia-real em pleno voo é obra do povo sanjoanense. Quem elege é o povo em plena soberania – e o povo já deu provas de que é mais sábio do que possa parecer. Na primeira vez que o doutor Jorge Vultos Sequeira se candidatou à presidência da Câmara do Município de S. João da Madeira, a candidatura vinha baseada num conjunto de proposições em que a cultura (o parente pobre de um país já de si carecido) tinha um relevo assinalável. Foi isso o que de modo principal me inclinou para o apoio que então dei ao projecto de governação apresentado.
Mário Soares foi considerado o patrono da democracia pelas simples mas paroxística razão de que não queria uma democracia para si próprio – mas para todos por igual. Assim como Roma e Pavia não se fizeram num dia, também um Município onde a Indústria e o Comércio são o seu desenho na face não se faz sem o decurso do tempo. Há quem pratique a política à moda do Príncipe de Salinas, o tal que dizia que à política o que se pede é que mude alguma para tudo fique na mesma.
O consulado já cumprido pelo doutor Vultos Sequeira é a prova real de que no Município de S. João essa regra nociva foi posta de parte a favor de um projecto eminentemente democrático, assente nos valores das benditas terras de Santa Maria. Nas últimas eleições a vitória foi clara e transparente. Cumprido o programa então apresentado, as perspectivas só podem ter um único sentido.
O doutor Vultos Sequeira, todos sabem, é uma daquelas pessoas votadas ao trabalho. Não é o único, pois a cidade o que leva na lapela é o distintivo de Cidade do Trabalho e, pois, onde há muita gente que se vê aflita para meter as vinte e seis horas do seu dia nas vinte e quatro horas que o dia tem. Sob a égide de Mário Soares, o mais alto representante da democracia de rosto humano, as eleições anteriores foram o que uma eleição não pode deixar de ser. Um conclave em que nem todos ganham mas ninguém perde, pois o voto é em si mesmo o lugar geométrico da democracia em acção.
Por último e não por derradeiro, há que ter em conta a obra feita, pois pelo dedo se vê o anão e o gigante. Costumo dizer que a arte é uma deusa voraz – ou a alimentamos todos os dias ou ela nos devora sem piedade. Nas últimas eleições o executivo municipal excedeu todas as espectativas, através de uma vitória que no mínimo dos mínimos se pode considerar a democracia a ditar as suas leis. Ao contrário do que alguma gente pensa, S. João da Madeira é um pólo de cultura, com bases seguras na literatura, no jornalismo e no teatro e nas vozes populares através do folclore – em que o zénite foi atingido com a estreia mundial das Bacheanas do compositor brasileiro Heitor Vila-Lobos num conjunto de nove violoncelos dirigido pelo maestro Ivo Cruz.
Dando vez ao acervo cultural que enobrece as autarquias, o regresso aos Festivais de Teatro são uma esplêndida notícia. Assim também reedição do romance ``Unhas Negras``, de João da Silva Correia – e por que não a reedição das Obras Completas? Desse modo só faltaria juntar ao rol dos eleitos o boníssimo Carlos Costa que dedicou uma boa parte do seu talento a lançar as basas do presente como registo do futuro. O que nos leva à pergunta essencial – o que é que o semeador tem nas mãos na hora da sementeira? A resposta imediata é que o semeador tem nas mãos a semente. Mas será assim? Nessum dorma! – brada Giacomo Puchini no fim da sua ópera Turandot. Ninguém durma no acto de votar – digo eu. Mas atenção, o voto é uma semente que se deita à terra, pelo que se torna necessário saber o que é que o semeador tem nas mãos no acto da sementeira. A resposta comum é que no acto da sementeira o que o semeador tem nas mãos e à semente. Mas não, o semeador não se contenta com tão pouco.
Sob a égide de Mário Soares e depois de tantos anos de socialismo de rosto humano – desconhecer a resposta e votar de forma aleatória seria um verdadeiro sacrilégio. Perguntem a Vultos Sequeira o que o semeador tem nas mãos no acto da sementeira – com toda a urbanidade e bem-quer ele vos dirá que no acto da sementeira o que o verdadeiro lavrador tem nas mãos – é a Seara.

FLD (Finito Laos Deo)

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