Quando José Inácio Ferreira se retirou com a família para o Porto, em 1916, S. João da Madeira ficou privado do único fotógrafo de profissão que aqui desenvolvia a sua atividade. Foi preciso esperar quase nove anos até aparecer alguém que o substituísse nessa vertente artística. Esse alguém foi Abílio Gomes, um arrifanense especializado em retratos vitrificados a fogo, sobre porcelana e esmalte, próprios para túmulos, jóias e louças, de acordo com o anúncio publicado no jornal “O Regional”, número 121. Mas a disponibilidade do fotógrafo, que tinha o seu estabelecimento no lugar das Vendas, ia muito para além disso: Encarrega-se de tirar fotografias no domicílio, como sejam grupos, casamentos, garante entrega rápida de retratos para documentos e também acabamento de trabalhos aos senhores amadores.

Abílio Gomes estendeu o seu negócio à venda e reparação de rádios, gramofones, grafonolas e foi responsável pela criação da estação emissora de TSF, “Rádio Sanjoanense”, inaugurada a 20 de novembro de 1932. Uma aventura efémera cujo desfecho esteve longe de ser aquele que pretendia e que terá estado na origem do encerramento da sua atividade comercial e artística, nesta localidade.
Por essa altura, a paixão do jovem Carlos Alberto da Costa pela fotografia já tinha feito dele o mais talentoso fotógrafo amador de S. João da Madeira. A inspiração que recebeu do mestre Domingos Alvão, que por aqui andou a fazer clichés e vistas panorâmicas para a coleção de postais editada pelo jornal “O Regional” em 1929, ajudou-o a realizar uma obra de que só alguns conseguiram perceber a importância e o alcance. Poucas terras se podem vangloriar de terem a sua história contada em imagens, ao longo de mais de sete décadas, precisamente aquelas em que S. João da Madeira mais se desenvolveu e se transformou.
Carlos Alberto da CostaA arte de fotografar, aprimorada por muitas experiências partilhadas com os melhores fotógrafos do norte do País, com quem fundou a “Associação Fotográfica do Porto”, foi para Carlos Costa, apenas e só, uma paixão. O registo pormenorizado da evolução da sua terra e a eternização das maravilhosas paisagens da Ria de Aveiro foram sempre os principais alvos da sua objetiva. A pedido de amigos e, muitas vezes, da própria autarquia, realizou inúmeros trabalhos fotográficos, com especial destaque para as fotografias que ilustraram a primeira monografia de S. João da Madeira, sem esquecer a inestimável colaboração que prestou, anos a fio, ao jornal “O Regional”.
Os sanjoanenses que pretendiam retratos de família, reportagens de casamentos e outros trabalhos similares, recorriam aos serviços dos mais conceituados profissionais da região, designadamente Eduardo Paúl, proprietário da “Fotografia Paúl, de Oliveira de Azeméis, e de Mário da Cruz Almeida, proprietário do “Estúdio Almeida”, de Ovar. Foi este quem, em meados da década de 1940, decidiu abrir duas filiais: uma em Santa Maria da Feira (à época Vila da Feira) e outra em S. João da Madeira, esta com sede no primeiro andar do edifício de Olímpio Gomes, bem no centro do antigo lugar das Vendas.
Ficou como responsável desta filial o fotógrafo Carlos da Silva Pádua, natural de Aveiro, onde nasceu a 31 de agosto de 1915. Aqui, conheceu Maria José Bastos, com quem casou, em 1945. Três anos depois, Carlos Pádua estabeleceu-se por conta própria, fundando a “Foto Mimi”.

Para dirigir a filial do “Estúdio Almeida”, veio de Ovar o fotógrafo Edmundo Carvalho, natural daquele concelho, na altura com 25 anos de idade. Tal como o seu colega de trabalho, também ele constituiu família cá. Casou com Sílvia Amorim, prima de Carlos Alberto da Costa, em 1951. Edmundo Carvalho acabaria por chegar a acordo com Mário da Cruz Almeida e passou ele a ser o único proprietário do “Estúdio Almeida” de S. João da Madeira.
Durante muitas décadas foram os fotógrafos de referência desta terra. Não deve haver sanjoanense nenhum que não tenha nos álbuns de família uma fotografia, pelo menos, da autoria de um deles.
A “Foto Mimi” continua de portas abertas, no mesmo sítio onde iniciou a sua atividade mas num edifício construído no início da década de 1980. Dos dois filhos de Carlos Pádua – Ângelo e Carlos – foi Ângelo quem deu continuidade, ao negócio do pai.

O “Estúdio Almeida” mudou-se para a Avenida Marechal Carmona (atual Avenida da Liberdade) em 1961. Os filhos de Edmundo Carvalho – José e António – seguiram as pisadas do pai e foram eles os continuadores da atividade da casa, até ao seu encerramento em 2015, sete anos após a morte do pai.
Ainda que não esteja dentro do espaço abrangido pelo antigo lugar das Vendas, por razões óbvias, é de toda a justiça referirmos aqui o fotógrafo Carlos Santos, proprietário da casa “Carlos Santos Fotografia”, com sede na Rua Júlio Dinis. Carlos Santos iniciou a sua atividade no final da década de 1970, em instalações provisórias, na mesma rua onde se encontra atualmente.