“A qualidade de vida nunca está garantida, tem de ser recriada e sustentada, todos os dias”
O arquiteto Sidónio Pardal é sanjoanense e orgulha-se disso. Nesta entrevista, abriu as portas de sua casa a ‘O Regional’ e assumiu guardar a lembrança de uma infância feliz, em “tempos difíceis”.
Viajou no tempo e recordou a fábrica de chapéus Pinho&Costa, do seu bisavô José, movida toda ela a vapor. A Arquitetura Paisagista ocupa parte significativa do seu tempo, desde 1973, e assume que pertence a uma geração que “protagonizou a revolução cultural dos anos 60”. Relativamente às suas obras em S. João da Madeira, diz não se sentir muito confortável em fazer comentários ou apreciações.
Jornal ‘O Regional’ - A Câmara Municipal do Porto atribuiu-lhe a Medalha Municipal de Mérito no Grau Ouro, numa cerimónia que se realizou no passado dia 9 de julho, na casa do Roseiral, no Antigo Palácio de Cristal. Que importância tem a distinção nesta altura da sua vida?
Sidónio Pardal – A cidade do Porto idealizou a construção do seu Parque desde os finais do século XIX, iniciou a aquisição dos terrenos em 1926, e nunca desistiu. Em 1933, Ezequiel de Campos refere que a cidade já tem belos jardins, mas faltava-lhe um Parque, coisa que ele entendia, e bem, ser diferente de um jardim.
Coube-me, em 1982, o privilégio de entrar neste fascinante desafio, que colheu entusiasmo e perseverança ao longo de gerações. É gratificante ter a obra quase concluída, constatar que a cidade a aceita bem, e que as pessoas gostam de estar no Parque.
Fica triste por nunca ter recebido do município de S. João da Madeira um reconhecimento semelhante?
Sinceramente, nunca pensei em tal e, já agora, que fala nisso, parece-me estranho receber medalhas da família, que é a relação que tenho com a comunidade sanjoanense. Não sou santo, tão pouco milagreiro, e sou da casa, onde me sinto muito bem. Tenho uma excelente relação com o Município, o que me apraz realçar.
O seu pai tem um lugar na história de S. João da Madeira pelo contributo que deu ao desenvolvimento do concelho. Que imagem guarda dele, e da forma como se dedicou a S. João da Madeira?
O meu pai foi um homem bom, dedicado ao voluntariado em prol do bem comum. Diria que um pouco obcecado pela Sanjoanense, o primeiro clube de Portugal a ter o seu pavilhão de desportos. Isso consumia-lhe muito tempo, o que, compreensivelmente, não agradava à minha mãe.
Mas o seu apostolado na Santa Casa da Misericórdia, em parceria eficiente com outros irmãos, onde se destacava o Senhor Manuel Pais Vieira, foi muito meritório e deu guarida a muitos doentes, crianças e idosos, literalmente, em estado de abandono.
Mas ser Sidónio Pardal teve sempre em si um peso e uma responsabilidade muito grandes?
Não, de todo, porque não tenho as virtudes do meu pai. Acresce que pertencemos a gerações distintas, com vivências diferentes. Ele, com uma personalidade formada nos anos 30 e 40, marcada pela calamidade da II Guerra Mundial, e eu pertenço à geração de 60 do “make love not war”. Eu tive todas as oportunidades para estudar, conhecer o mundo e fazer o que quis, a nível profissional. Ao meu pai só foi dada a oportunidade de estudar até à 4ª classe, e isso frustrou o seu sonho e vocação, que era ter cursado medicina. Mas, mesmo com estas contrariedades, teve uma vida plena e feliz.
Entrevista disponível, em versão integral, na edição nº 3852 de O Regional, publicada em 15 de julho de 2021.