Opinião

Política Quântica - Marx e a “prioridade à ferrovia” entram num bar…

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O Governo do PS, pela voz de Pedro Nuno Santos, proclama a ferrovia como prioridade nacional. É a melhor decisão socialista nos 18 anos de governação que já leva desde 1995. E por várias as razões. É politicamente consensual, mobilizando-nos numa missão coletiva. Ajuda o país a despoluir e a cumprir objetivos ambientais internacionais, salvando o planeta. Reindustrializa e requalifica mão-de-obra, travando emigração. Desenvolve novas competências e valências técnicas, reforçando o nosso potencial exportador. Produz riqueza nacional, sustentando, assim, o nosso Estado Social. E antecipa, a tempo, o que vão ser em breve as necessidades diárias de mobilidade do 4º país mais envelhecido do mundo.
Mas há também uma razão de filosofia política que justifica apoiarmos o PS no seu novo plano ferroviário nacional: tal desmarxiza Portugal.
Numa carta escrita em 10 de Abril de 1879 a Nicolai Danielson, Marx afirma que ferrovia é sinónimo de ímpeto nunca visto na concentração de capital, na aceleração do crédito transnacional e na interdependência financeira e de dívida - o equivalente capitalista à “internacional dos trabalhadores”. E vai mais longe: não só “a mania da ferrovia” afeta negativamente a divisão internacional do trabalho, como ajuda a expandir a superestrutura capitalista. Segundo Marx, “não resta a menor dúvida”: a ferrovia acelera “a desintegração social e política” dos países e regiões na periferia do capitalismo, tal como precipitou o desenvolvimento final da produção capitalista nos países mais avançados. E finaliza, alertando, que a ferrovia dá um “imenso impulso ao desenvolvimento do comércio internacional” o que se traduz na “miséria das massas”.

João Ribeiro elogia a aposta do Governo na modernização da ferrovia

Podemos encontrar conforto nestas premonições marxistas. Quando bem interpretadas, delas decorre que a ferrovia impulsiona o nosso comércio internacional, sendo tal essencial para uma balança comercial saudável; desenvolve economicamente os territórios mais subdesenvolvidos e isolados de Portugal, o que é fulcral para maior coesão social; e liga melhor a economia nacional às centralidades económicas, algo fundamental para reduzir a nossa periferia. E, como em tantas outras observações marxistas feitas no século XIX, a história e, mais recentemente, o comunismo com características chinesas, encarregaram-se de provar como da ferrovia não resulta a miséria das massas.
É por todas estas razões que a aposta na ferrovia é um bom exemplo do que o PS, no seu melhor, e o seu constante reformismo democrático, ainda dão ao país: um caminho moderado, mobilizando o que o Estado pode e sabe fazer bem, sem hipotecar nem o Estado Social nem a transparência das contas públicas, com investimento privado nacional e estrangeiro – incluindo das mais importantes multinacionais do sector, como parece indicar a recente visita de Gian Luca Erbacci, da Alstom, segundo maior construtor ferroviário mundial. O tal “grande capital” a que alguns dos porta-vozes nacionais do marxismo se referem nos seus sermões às massas.
Apesar de relativamente ignorada pela “bazuca” de António Costa, a ferrovia terá mesmo assim um investimento público massivo e sem paralelo desde o século em que Marx escreveu a sua carta. Nunca saberemos se tal carta causou a paralisação da ferrovia nacional desde então. Mas podemos impedir que tal aconteça nas próximas décadas. Basta para isso garantir aos portugueses, unidos nesta missão colectiva, que Marx, e alguns dos seus porta-vozes no BE e no PCP, não entrarão em futuros governos da República pela mão do PS.

João Ribeiro

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